sexta-feira, 21 de outubro de 2011

SIMONE

Vejo-a praticamente todos os dias da semana. Invariavelmente, às quinze para as sete da manhã, quando já estou próximo ao colégio onde deixo minha filha, me deparo com ela em um cruzamento movimentado, situado nas imediações do Parque Areião. Lá está ela, vendendo balas, pequenas porções de mel e outras miudezas. Como consegue, com aquelas pequeninas mãos de criança, carregar tantas coisas? Noto que, pelo porte físico, não deve ter mais que doze ou treze anos.
Não sei explicar o motivo, mas em meu inconsciente, passei a chamá-la de Simone.
Cada vez que o semáforo fica vermelho, ela se aproxima, oferecendo seus produtos e mercadorias, dos carros ocupados por adultos, crianças e adolescentes que, assim como minha filha, estão a caminho da escola. De dentro do meu carro, observo no outro extremo da rua uma senhora aparentando cerca de quarenta anos e que tem os mesmos traços fisionômicos da menina Simone, fazendo o mesmo trabalho. Traz em seu rosto as marcas de uma vida difícil e sofrida. Imagino que seja sua mãe.
O que mais chama a atenção na pequena vendedora de doces e balas é que, apesar de estar ali muito cedo – faça frio ou calor -, ela está sempre com um sorriso estampado no rosto. Mesmo quando dá de cara com um vidro fechado (e isso é a regra), ela não demonstra contrariedade ou faz cara feia. Não parece ficar decepcionada ou com raiva pelo fato de o ocupante do veículo demonstrar certo ar de desprezo e balançar negativamente a cabeça, manifestando não querer comprar o que ela vende. Não parece achar seu trabalho um fardo.
Assim a pequena Simone segue sua rotina. Após cada abrir e fechar do semáforo aproxima o corpo franzino da janela dos carros sorrindo, recebendo quase sempre negativas. Vez em quando alguém compra alguma coisa. Ela rapidamente conclui a negociação, pois sabe que se não agir assim, o sinal ficará verde e ela perderá o cliente, consequentemente os trocados que aquela venda renderia.
Então me pergunto: até que horas a pequena vendedora permanece naquela movimentada esquina?
Não posso negar que sinto um nó na garganta e um leve marejar nos olhos ao fitar seu rosto. Onde estão seus sonhos? Suas brincadeiras de criança? Será que ela tem o carinho e o amor de um colo de avó, por exemplo? Ou sua infância está ficando perdida em um canto da vida, naquela esquina, obrigada pela necessidade de sobreviver e ajudar aos seus?
Nesse horário ela não deveria estar na escola? Em casa, estudando, fazendo as tarefas escolares? Ou ainda no calor de sua cama, inocentemente dormindo, embalando seus sonhos? O trabalho dela é árduo. E é apenas uma criança. Uma criança que abdicou dos sonhos em troca da sobrevivência.
Diante disso, só me resta pedir ao Pai do Céu que a ampare e ilumine pelos caminhos da vida. Ela, a pequenina vendedora das manhãs de Goiânia exerce com inabalável dignidade seu trabalho.
Tenho certeza que seu coração não abdicou dos sonhos. Está apenas adiando-os. A quem que passar por ali, que não deixe de ver e valorizar o exemplo de luta pela vida da pequena SIMONE.

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