Não sei explicar o motivo, mas em meu inconsciente, passei a chamá-la de Simone.
Cada vez que o semáforo fica vermelho, ela se aproxima, oferecendo seus produtos e mercadorias, dos carros ocupados por adultos, crianças e adolescentes que, assim como minha filha, estão a caminho da escola. De dentro do meu carro, observo no outro extremo da rua uma senhora aparentando cerca de quarenta anos e que tem os mesmos traços fisionômicos da menina Simone, fazendo o mesmo trabalho. Traz em seu rosto as marcas de uma vida difícil e sofrida. Imagino que seja sua mãe.
O que mais chama a atenção na pequena vendedora de doces e balas é que, apesar de estar ali muito cedo – faça frio ou calor -, ela está sempre com um sorriso estampado no rosto. Mesmo quando dá de cara com um vidro fechado (e isso é a regra), ela não demonstra contrariedade ou faz cara feia. Não parece ficar decepcionada ou com raiva pelo fato de o ocupante do veículo demonstrar certo ar de desprezo e balançar negativamente a cabeça, manifestando não querer comprar o que ela vende. Não parece achar seu trabalho um fardo.
Assim a pequena Simone segue sua rotina. Após cada abrir e fechar do semáforo aproxima o corpo franzino da janela dos carros sorrindo, recebendo quase sempre negativas. Vez em quando alguém compra alguma coisa. Ela rapidamente conclui a negociação, pois sabe que se não agir assim, o sinal ficará verde e ela perderá o cliente, consequentemente os trocados que aquela venda renderia.
Então me pergunto: até que horas a pequena vendedora permanece naquela movimentada esquina?
Não posso negar que sinto um nó na garganta e um leve marejar nos olhos ao fitar seu rosto. Onde estão seus sonhos? Suas brincadeiras de criança? Será que ela tem o carinho e o amor de um colo de avó, por exemplo? Ou sua infância está ficando perdida em um canto da vida, naquela esquina, obrigada pela necessidade de sobreviver e ajudar aos seus?
Nesse horário ela não deveria estar na escola? Em casa, estudando, fazendo as tarefas escolares? Ou ainda no calor de sua cama, inocentemente dormindo, embalando seus sonhos? O trabalho dela é árduo. E é apenas uma criança. Uma criança que abdicou dos sonhos em troca da sobrevivência.
Diante disso, só me resta pedir ao Pai do Céu que a ampare e ilumine pelos caminhos da vida. Ela, a pequenina vendedora das manhãs de Goiânia exerce com inabalável dignidade seu trabalho.
Tenho certeza que seu coração não abdicou dos sonhos. Está apenas adiando-os. A quem que passar por ali, que não deixe de ver e valorizar o exemplo de luta pela vida da pequena SIMONE.
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