Ainda não havia amanhecido totalmente o dia, os raios de luz tenazmente mandavam embora e tentavam vencer e dominar as últimas sombras da note, quando cheguei a Goiânia. Mais algum tempo e desembarcava com malas, mochilas e sonhos, além do coração cheio de saudade da pequena São Miguel, onde morava. Eram meados de março, e o tempo indicava que teríamos um dia de muito calor. Talvez, chuva ao fim da tarde.
Desci do ônibus na confluência das Avenidas Independência e Goiás. Optei por descer ali, pois ser mais perto de onde eu iria morar. Podia ir a pé.
Subindo a Avenida Goiás, me encantei com tudo aquilo que vi pela frente. Uma cidade grande, mas com ares de cidade humana. Um pouco diferente daquilo que eu ouvia falar
Aos poucos, a mochila e apequena mala que carregava começavam a pesar. Pergunta daqui, pergunta dali, e seguindo as indicações que tinha cheguei ao pequeno quartinho da rua três, no Centro, onde dali pra frente seria minha morada.
Cansado da viagem, embora o copo pedisse, preferi não descansar. Fui em busca das novidades. Conheci a pequena mercearia, alguns bares, lanches, uma eletrônica, enfim, o comercio ali perto, e observei o ir e vir das pessoas. O centro da cidade era movimentado e agitado. Gostei de tudo que vi.
Logo estava trabalhando e dando conta de mim. O primeiro emprego foi em uma agência de turismo, onde fazia serviço de Office-boy. Foi a descoberta de um mundo maravilhoso. Viajava naqueles imensos painéis com fotografias de Roma, Paris, Tóquio, admirava a elegância das pessoas que ali circulavam. Sonhava com o futuro.
À noite tinha as aulas no Lyceu. Ali, além das matérias normais tinha aulas de Francês, Filosofia, Sociologia e Artes. Confesso que me encantava com o teor daquelas aulas. Tinha ainda Dona Zizi, mestra de tantos anos de magistério, que me fez tomar mais gosto ainda pelas aulas de Literatura e Português.
Depois, fui morar no setor oeste. Ali, conheci a pessoa amada. Morava pertinho da Praça Tamandaré e suas movimentadas noites de sábado e tardes de domingo. Sempre que podia, parava no Buteko, bar de propriedade do poeta Luiz de Aquino, e para desespero dos garçons, ocupava o quanto podia uma mesa. Viajava em canções, nas vozes de Anete Teixeira, Pádua, Jorge Lyra, Fernando Perillo, ouvia o piano maravilhoso tocado pelas mãos de Paulinho de Assis.
Dali, ia para casa a pé, sem medo de assaltos ou violência. Libertos e sossegados, andávamos – a amada e eu - pelas ruas e avenidas, sem medo nem temor.
Um dia me casei, formei minha família. Edifiquei minha casa, vi nascerem minhas filhas. Emoções incomparáveis. Minha Goiânia querida, que sempre me acolheu com carinho, me permitiu tudo isso.
Hoje, circulando pela cidade, apesar do intenso movimento de carros e pessoas, ainda enxergo poesia em suas esquinas e monumentos. Cada canto me lembra uma passagem boa da vida. Com emoção o coração busca na saudade os tempos do Lyceu, da Rua Três, da Praça Tamandaré, dos bares da Rua Vinte, onde tocava violão e tentava entoar canções.
Hoje, no meu Faiçalville querido eu espero que o tempo me permita ver a chegada de netos, e que eu possa envelhecer em paz. Sempre observando o que de belo há perto de mim.
Goiânia me deu tudo isso. Obrigado, minha Goiânia querida. Parabéns, cidade amada! Feliz aniversário!
Marca registrada sua, o telurismo bucólico e suave! Mais um texto muito gostoso de ler... parabéns!
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