sábado, 8 de outubro de 2011

O PLANTIO DA ROÇA


O menino Toninho acordara mais cedo naquela manhã de chuva fina e intermitente. Era o grande dia do inicio do plantio da lavoura na roça nova, onde há pouco mais de um mês seu pai derrubara e fizera a grande queimada.
Não parecia que já haviam passado tanto tempo. Agora o menino Toninho mal aguardava a hora de ajudar seu pai a colocar as sementes na terra.
Depois da queimada ainda tiveram muito trabalho. A remoção de alguns restos de arbustos colocados nos grandes leirões chamados coivaras e a queima de alguns tocos maiores os deixaram parecendo zumbis, por causa do carvão. Ficaram até engraçados.
Algumas semanas depois, vieram as chuvas. No inicio, fortes, com muito trovão e ventania, mas rápidas. Ainda não era a chuva ideal para que se pudesse plantar. Todos os dias o menino Toninho via seu pai fitar o horizonte, ao cair da tarde, observando os sinais da natureza no céu. E seu pai compreendia esses sinais. Uma tarde ele afirmou que logo, a chuva firmaria. O menino Toninho entendeu então que chegaria a hora do plantio.
A chuva começara na tarde do dia anterior. Veio forte no inicio, entremeando réstias de sol entre as nuvens densas e pesadas, até firmar em um tempo fechado, com chuva para todos os lados. Logo caia uma chuva calma, constante.
Viu seu pai separando as sementes e as ferramentas, limpando a velha matraca. Teve então a certeza que o trabalho começaria.
O menino Toninho ao ouvir sinais que o pai levantara, também pulou cama e foi juntar-se a ele. Notou a expressão de satisfação no semblante do pai ao vê-lo ali naquela hora.
Mal pode esperar o fim do café da manhã, que sua mãe carinhosamente colocara na pequena e rústica mesa, composto de queijo, requeijão, leite, café e algumas bolachas, feitas ali mesmo. Mas o menino Toninho queria mesmo era ir logo para a roça.
No caminho ficou mais feliz ainda, ao receber a promessa de seu pai que, se tudo corresse bem com a lavoura, ele ganharia um par de chuteiras azuis, dessas de jogar futebol, novinha. Era seu sonho de menino ter uma chuteira como seus ídolos naquele lugar.
Começaram o trabalho plantando primeiramente o milho. Seu pai ia à frente abrindo pequenos buracos no chão. O menino Toninho vinha em seguida jogando as sementes e chegando terra nas covas com um movimento dos pés. Era um trabalho ritmado, constante e rápido. Nem uma topada que dera em um toco escondido no chão o fizera desanimar. Vez em quando uma pequena parada para beber água e logo em seguida voltar ao trabalho.
Nem notara o tempo passar. Vira apenas que já havia passado algum tempo ao avistar sua mãe. Trazia o lanche, que chamavam de merenda, juntamente com o almoço. Debaixo de uma grande árvore remanescente eles se agasalharam como puderam e fizeram ali mesmo sua refeição.
Foi assim durante todo o dia. Apesar de franzino o menino Toninho não sentiu o cansaço que tomava conta de seu corpo esquálido. Estava feliz. Trabalhara muito, ajudara o pai a plantar as sementes de milho, de arroz, de aboboras e melancia junto às coivaras. Duraram quatro dias o trabalho na roça. Ele sabia que, passados alguns dias era somente fazer a desbrota removendo os brotos que nasciam nos tocos queimados pelo fogo, mas insistentes em sobreviver-sapiência da natureza.
Agora era esperar para em breve ver a roça bonita, viçosa, com os imensos cachos amarelos de arroz vergados, com as doces melancias próximas às coivaras e com as grandes espigas de milho. Era certeza de mais um ano com fartura. E o menino Toninho sonhou com o par de chuteiras azuis prometido por seu pai.

2 comentários:

  1. Muito bom! Histórias assim provocam no velho leitor lembranças doces, mesmo que não vividas - mas assistidas, sem dúvida! Ou adaptadas, que a cada um cabe o plantio e a colheita nas metáforas das circunstâncias... Parabéns, Paulo Rolim!

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  2. Parabéns, Cronista. Que as chuteiras não sejam penduradas tão cedo. Bola p'ra o menino Toninho...

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