quarta-feira, 2 de novembro de 2011

UM VELHO VIOLÃO EM UMA NOITE DE CANTORIA - E CERVEJA!

Chegou numa motocicleta pra lá de velha, com problemas de “juntas”, debaixo de uma chuva fria e insistente. Trazia as vestimentas cheias de pingos de tinta, sinal que havia trabalhado durante todo o dia. Tinha um rosto magro, as feições rijas, um ar de sofrimento, barba por fazer, um olhar meio perdido, distante talvez.
Trazia nas costas um violão, velho e carcomido, faltando uma corda, envolvido no que foi um dia uma capa protetora própria para violões.
 Dirigiu-se ao balcão do bar onde estávamos, pediu ao Sr. Toninho uma pinga. Mandou colocar logo uma    dupla, para acabar com o frio que, segundo ele, doía-lhe até os ossos.
Não me contive e perguntei-lhe sobre o violão e, nesse instante, seu rosto se iluminou, despertando de sua letargia. Fitando-me nos olhos, respondeu dizendo que acabara de comprar. E que seu sonho desde menino era ter um violão, não importando se fosse velho, mas que desse para tirar umas cantigas.
Disse isso e retirou-o da desarrumada e malcheirosa capa e entregou o violão a mim, dando a impressão que ali estava um bem tão precioso, algo que representava muito para ele, como sua própria vida.
Meio sem jeito, peguei o violão, tentei afinar as velhas e enferrujadas cordas e, apesar da falta da primeira (mi), consegui tirar alguns acordes.
Foi o suficiente para o sujeito mostrar-se radiante e feliz, pois constatara que sua aquisição funcionava. Imediatamente propôs pagar uma cerveja para mim, desde que eu tocasse mais alguma coisa. Não me neguei e continuei a tirar sons. Ele então se atreveu “pedir” uma música que, embora não faça parte do meu gosto musical, era fácil de tocar e sabia mais ou menos sua letra. Ele acompanhou a cantoria e, sabendo de cor toda a letra da música, cantou e interpretou ao seu modo, meio desengonçado, mas cantou.
Em uma mesa de canto, estava um casal que, chegando mais perto, também pediram que tocasse outra música. O tal sujeito disse também que sabia a letra e, num instante estava eu tocando um violão que faltava uma corda, e dois sujeitos desafinados a cantar musicas que falavam de amor, de paixões antigas, desenganos e outras coisas mais. E desce cerveja.
Foram chegando pessoas, outros que sabiam tocar davam sua palinha e, quando olho no relógio, uma hora da manhã. Pensei eu: hoje não entro em casa. Minha primeira dama deve estar cuspindo fogo.
Não tem jeito, agora é ir embora. No trajeto para casa, fiquei pensando o que é a música. Um violão velho, que para alguém não prestava mais acabou fazendo a festa de pessoas durante uma noite, e principalmente, trouxe felicidade a uma pessoa que, pela sua aparência não era das mais felizes. Certamente tinha uma vida difícil.
Chego em casa, tomo meu banho, vou aninhar-me nos braços das minha amada, que pergunta por que cheguei aquela hora. Meio sem jeito, respondo que estava na companhia de um velho e surrado violão, que fez a felicidade de pessoas durante algumas horas.

Um comentário:

  1. Mesmo quem não gosta de música sertaneja (as tocadas no violão), nada melhor do que um violão e uma rodinhas de amigos, ou mesmo desconhecidos de acordo com o seu caso, a cantar e espantar as tristezas da vida.

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