sexta-feira, 18 de novembro de 2011

O MENINO LUIS


O menino Luis nunca teve a vida fácil. Quando criança, era apenas mais um, dentre doze irmãos. Seus pais, morando de agregados em uma fazenda tinham uma vida muito difícil quando ele chegou. Era mês de Novembro, quase final do ano, e seu pai preparava a terra para o plantio da lavoura, que garantiria o sustento, o alimento à prole por todo o ano.
O menino Luis chegou em uma manhã chuvosa, de parto normal, em casa mesmo, pelas mãos experientes da dona Corina, parteira de muitos anos de experiência. Dona Corina – um dia escreverei sobre ela, eu prometo - tinha lá seus rituais que garantiam sempre o sucesso do parto.
Após preparar a parturiente, dar-lhe a tradicional pinga queimada no prato e rezar a oração de Santa Margarida, com calma e tranqüilidade, rezando sempre, trazia ao mundo as crianças. E foi assim que veio ao mundo o Menino Luis.
O tempo, implacável, foi passando. De criança de braço a pequeno trabalhador na roça, foi um pulo. A infância passou muito rápido. Apesar de franzino e magrinho, ainda muito pequeno, já ajudava o pai, puxando a enxada no eito da roça e cuidava dos animais da fazenda. Divertia-se muito em suas brincadeiras de criança. Caçava passarinhos, na sua inocência, andava com os irmãos pela mata, e na época dos ventos, adorava soltar pipas pelo pasto afora.
Apesar das dificuldades da família, da pobreza extrema de seus pais, o Menino Luis era feliz. Dormia em uma pequena esteira de palha, em um dos cantos do quartinho ao lado dos seus irmãos maiores. Nas noites em que o sono demorava a vir, ficava a fitar as estrelas pelas frestas do telhado. Adorava as noites claras, onde a lua cheia, clarinha se derramava por toda a fazenda. Isso deixava o menino Luis intrigado. Porque a lua não era clara todos os dias? Porque ela somente aparecia de vez em quando? E se sentia mais seguro nas noites claras de lua.
Naquele tempo, não havia energia elétrica na fazenda. Usavam lamparinas abastecidas com querosene, que refletiam na parede de forma desordenada as sombras das pessoas. E um pequeno e velho rádio de pilhas, era a diversão noturna.
Aos oito anos, foi para a escola, em uma vila próxima. Andava todos os dias seis quilômetros de ida, mais seis de volta. Chovesse ou fizesse sol. E, apesar da distância, ele fazia a caminhada com entusiasmo, juntamente com outras crianças da vizinhança, que eram seus amigos de infância.
No início, muita dificuldade de entender aqueles símbolos desconhecidos. Como aqueles rabiscos se transformavam em palavras, em sons? Outro mundo a partir dali ele descobriria. E logo, inteligente que era, passou a dominar a escrita e a leitura.
O difícil mesmo era suportar as brincadeiras e gozações dos outros alunos, e não raro, conforme a ofensa, tornava-se luta renhida, para defender a sua honra e de seus familiares – mãe, principalmente - perante os outros colegas. As brigas não eram raras, embora o menino Luis fosse de boa índole e de paz. Mas não costumava levar desaforos para casa, mesmo que apanhasse dos outros moleques. Mas, ainda era infância e no outro dia, já esquecia tudo, sem rancores nem ódios guardados do outro colega.
Um dia, o menino Luis foi pra cidade morar com uma irmã, já casada. Mais um mundo novo e diferente. Novas descobertas. Logo chegou a adolescência e a responsabilidade agora era trabalhar de dia e estudar á noite.
Com o tempo, deixara a casa da irmã e passou a morar no trabalho, uma pamonharia em um bairro nobre da cidade. Mais aprendizado e responsabilidades. Tornara-se também o esteio dos pais, trazendo-os para morar na cidade. Construiria uma pequena casa, apesar do salário apertado e tirara os pais das dificuldades da roça, já nesse tempo, não tão farta como antigamente. Sabiam seus pais que podiam contar sempre com o filho.
Apesar de homem feito, o menino Luis continua como sempre foi: batalhador, humilde, lutador com a vida.
Faz pouco tempo o menino Luis começou a batalha para realizar mais um sonho: o de tornar-se advogado. Deu os primeiros passos na Universidade, fazendo o curso de Direito. Será mais uma caminhada difícil. Mas vencerá.
Pela sua história e pela sua vida, certamente será um grande profissional, um brilhante advogado.
Talvez, nas noites enluaradas da infância, ele não imaginasse onde poderia chegar. Mas o menino Luis, que um dia viveu na roça e lutou sempre por seu espaço na vida, nunca deixou de sonhar.

Um comentário:

  1. São tantos os luíses desse Brasil vendido e traído... mas poucos tem a felicidade de serem retratados pela pena privilegiada desse Caboclo Rolim.
    Um texto inspirado e realista. Muito bom mesmo.
    Parabéns!

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