sábado, 30 de dezembro de 2017

2018 CHEGA. QUE SEJA UM ANO FELIZ




O ano de 2017 chegou ao fim e creio que para a maioria dos brasileiros, isso traz certo alivio. Afinal tivemos sim um ano muito difícil, cheio de incertezas e dificuldades, com um governo federal insensível e em muitos aspectos desumano. Parece governar, dirigir o país conforme os próprios interesses e de seus apaniguados. Demonstra ter como obsessão arrancar o minguado e parco caraminguá do povo, inclusive dos mais humildes e aprovar a toque de caixa àquilo que acha que será o melhor para o país. Será mesmo? Sem debate, sem esclarecimentos, sem honestidade até.
Vivemos nos últimos dias de dezembro na grande mídia o tempo das retrospectivas. Retrospectivas de quê? É claro que o tema dominante será a violência. Isso foi constatado nos telejornais do horário do almoço, que fizeram questão de valorizar e colocar em evidencia fatos tristes, lamentáveis de uma parte da sociedade que sequer merece a dádiva de viver. Embora sejam seres humanos, são brutais e desconectados com o bem.
Não quero aqui pedir que importantes veículos de comunicação deixem de cumprir a sagrada e fundamental missão de informar à sociedade tudo o que ocorre. Mas, ponderemos: o bem também pode e deve dar audiência.
Vamos nos ater então, esquecendo maldades dos governantes, parlamentos e seus apaniguados, ao bem cotidiano que norteia e nos faz seguir em frente nessa jornada fantástica que é a vida.
Sim, a vida! Por mais que tenhamos momentos difíceis, quando acreditamos ser quase impossível supera-los, que na nossa retrospectiva intima e particular, fora da telinha ou das ondas do rádio, possamos valorizar e sobrepujar sobre todas as outras coisas o bem!
Por mais que os mandatários do mundo, motivados pela sanha do vil metal promovam a guerra e não a paz – algo que pensamos fácil se tivessem coração -, que nossos caminhos sejam muitas vezes tomados pelo medo e pela insegurança, vamos acreditar que podemos fazer e ter um mundo melhor.
Precisamos nesse ano novo votar melhor, de maneira totalmente consciente. Nunca, jamais votar em corruptos. Não colocar ou recolocar nos parlamentos políticos descompromissados com a cidadania, com a honestidade – algo difícil em um político, né – e com os menos favorecidos aqueles que definirão nossos destinos. Depende e muito de nós. Na hora do voto, somos soberanos. Mas precisamos não aceitar cabresto e nos unirmos em torno de valores que devem ser exigidos dos representantes que elegeremos.
Penso que a partir disso podemos ter um ano de 2018 melhor. Que seja um ano onde ocorram encontros e reencontros com a alegria, a felicidade a harmonia. Ah, não esqueçam de cobrar também dos membros do poder judiciário a justa aplicação da lei a quem deve à sociedade por crimes praticados.
E que a partir de nossas atitudes tenhamos sim um novo ano feliz. Que venhamos alcançar os sonhos que estiveram distantes e inalcançáveis. Que nesses reencontros se possa abraçar aquele amigo ou irmão que esteve ausente e que a paz, a tão sonhada paz prevaleça, ao lado de justiça social e do bem comum.
Que tenhamos um 2018 incrível e surpreendente. Com a paz, o bem e a alegria sendo nossos principais companheiros.
Que 2018 seja um grande ano.
 E assim, desejo um feliz ano novo a todos.






sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

CRÔNICA DE NATAL



As alegres luzes que adornam a singela e para mim, sempre bela e alegre árvore de natal que há anos montamos na sala de nossa casa, trazem o clima e a certeza que estamos no natal; natal do menino Jesus, tempo em que devemos comemorar o aniversário do Filho do Pai.
E diante do magnifico piscar das luzes que ininterruptamente despejam sua alegria no ambiente, começo a refletir sobre como o ano passou rápido. Aliás, não só o ano, mas a vida, como tudo passa ou tem passado rápido.
Ao aprofundar um pouco mais minha reflexão, lembro que um dia desses eu chegava a Goiânia. Chegava ainda adolescente, no início da mocidade. Inseguro, após descer do ônibus na Avenida Independência, subi puxando uma mala com parcos pertences pela Avenida Goiás até a Rua Três, em busca do local onde meu irmão morava. Ali começava minha vida na cidade grande, na grande metrópole que como dizem, tem a mania de fazer as pessoas se apaixonarem por ela.
Os dias, os meses, e alguns anos se passaram e já ao lado da amada, vi nossas filhas nascerem, comemorei a conquista da casa onde moramos até hoje, e o tempo, inexorável como é, nem me fazia perceber que as meninas iam crescendo. A vida e suas etapas se cumpriam.
Com o tempo, as filhas queridas seguiram seu caminho. E em uma tarde quente de março chegou o menino Gabriel, de rosto plácido e lindo, chorando bastante diante do mundo que se apresentava a ele. Eis que eu me via novamente diante de choro de criança nova, que trazia renovação e acalento. Com ele, o coração também se renovava, se enchia de jubilo, alegria, felicidade. Passei a ser um avô coruja e cheio de cuidados como todo avô.
Voltando às luzes que me encantam e às reflexões, lembro que em alguns estados do país o natal de muitas famílias será de tristeza, mesa pequena e incerteza.
Tenho amigos queridos em todo o país, inclusive na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. A capital potiguar traz em seu nome, nada mais, nada menos que Natal. E Natal, cidade onde por algumas vezes estive, também é sinônimo de alegria e fraternidade.
E a bela e acolhedora cidade de Natal neste tempo de natal encontra-se sitiada.  Com a ausência de policiamento nas ruas em face de atraso de salários a insegurança e o medo persistem, desde a imponente e badalada Praia de Ponta Negra, passando pela Via Costeira até a popularíssima Feira do Alecrim. E no meio de tudo isso, um imponente e vistoso – embora sem utilidade – estádio ou arena de futebol, que custou milhões de reais, e hoje sem serventia alguma para a sociedade potiguar.
De maneira particular, não quero comparar esse natal com o do ano passado. Entre um período e outro, muita coisa aconteceu. E o que mais marcou, foi a tragédia que se abateu sobre meu irmão, quando em uma quase manhã de maio, na cidade de Palmas, um cidadão embriagado provocou um acidente de trânsito, levando-o a uma situação de saúde praticamente irreversível. Resta-nos a fé. Confiemos.
Mas é natal. E apesar das dores que porventura a vida nos traz, das dificuldades que de uma maneira ou de outra até servem para nos fortalecer, é abrir a alma e o coração e se deixar enlevar pelo espirito de natal.
Que o sorriso esteja presente no rosto das pessoas e as luzes, como as da árvore de natal de minha sala, contagiem e encham de alegria a noite em que celebramos a vinda do Menino Jesus.
Que o natal de todos os amigos queridos seja cheio de luz, de paz, harmonia e muita, muita esperança. Que possamos sonhar e acreditar em um mundo melhor e fraterno.
E que seja um feliz, um feliz natal!



sábado, 9 de dezembro de 2017

SINAIS DE PAZ – AINDA QUE TÊNUES – NO CAMPO DO FUTEBOL



No início dos anos 1980 quando cheguei em Goiânia vindo do interior, fui morar no centro da cidade, na Rua Três, na companhia de meu irmão, em uma pequena e acanhada edícula. Naqueles tempos difíceis, de segunda a sábado trabalhava duro na lanchonete do extinto Supermercado Alô Brasil, que ficava próximo ao Mutirama, e aos domingos a rotina era estudar de acordo com aquilo que a escola exigia e ouvir canções, ou compor algum poema singelo.
Com o tempo, comecei a frequentar o Estádio Serra Dourada. Era bacana ir aos domingos à tarde assistir os jogos da “geral”, bem perto do gramado, sempre na companhia do meu saudoso primo Delerito, servidor da justiça estadual e torcedor do Goiás “roxo” e “doente”.
Assistíamos às as emoções que só um clássico Vila e Goiás pode proporcionar lado a lado, em frente às cabines de rádio. Ele com sua camisa verde e eu com a minha colorada. Terminado o jogo, voltávamos a pé até o centro, onde Delerito pegava o ônibus para o Conjunto Cachoeira Dourada e eu ia para meu pequeno canto. Incluía nesse trajeto a pé uma parada em um carrinho de ambulante na praça do cruzeiro, onde degustávamos aquele cheiroso e fumacento espetinho de gato, acompanhado de uma coca-cola de garrafinha ks, bem gelada.
O tempo passou e os estádios de futebol foram ficando cada vez mais distantes para mim. Embora eu continue acompanhando futebol, feliz com a temporada de 2017 do Vila Nova e esperançoso que em 2018 possamos ir para a Série A, lugar onde o Vila Nova, pela sua torcida e tradição merece estar.
Quanto aos estádios, a última vez que assisti um Vila Nova e Goiás foi em 1993, decisão do campeonato estadual, onde o Vila se sagraria campeão. Àquela época, a violência já estava presente e crescente, inclusive com torcidas ditas organizadas se engalfinhando ao final do espetáculo futebolístico.
Dali em diante, não tive mais coragem de assistir a um clássico entre as duas equipes. E a violência foi só aumentando,  com notícias de mortes a cada embate entre as  duas equipes – o que deveria ficar somente no campo desportivo e dentro de campo – foi para as arquibancadas, terminais de ônibus e setores distantes, onde a violência e a guerra de ditos torcedores continuava. Recentemente, foi estarrecedor ver um pai com a filha ainda criança nos braços assustado, tentando fugir da onda de brutalidade que corria pela arquibancada, onde torcedores adversários e policiais travavam um embate violento.
Nesta semana, o presidente do Vila Nova, o jovem Ecival Martins, teve a grandeza, elegância e delicadeza de convidar publicamente o presidente do Goiás Esporte Clube para a cerimônia de sua aclamação e posse. O fato foi bastante comentado na imprensa esportiva e eu, daqui tive a esperança que a partir deste gesto simbólico o futebol voltasse a ser de paz e se pudesse voltar a viver momentos onde poderia assistir a um clássico ao lado de um amigo que ostentasse as cores do adversário.
Mas, embora o presidente do Goiás, Dr. Marcelo Almeida tenha aceitado o convite e confirmado presença, a partir de uma declaração contrária do presidente do conselho deliberativo colorado tudo se esvaeceu.
É alvissareiro ver atitudes que fomentam a paz e a harmonia no futebol, como fizeram Ecival Martins e Marcelo Almeida
A harmonia e a paz precisam voltar de maneira natural ao futebol. Penso que a presença do Dr. Marcelo na posse do presidente colorado seria um grande exemplo que o embate deve ficar sempre em campo nas quatro linhas e durante o jogo, sempre de maneira leal e correta.
Porém o sonho durou pouco. Mas que sirva de exemplo a atitude dos presidentes das duas maiores equipes de Goiás. O futebol arte e a harmonia agradecem.


sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

DEZEMBRO, CHUVA, SAUDADES... E LIMPEZA NA POLÍTICA!


Imagem retirada da internet


O mês de dezembro chegou com chuva mansa e noites amenas. Chuva calma e benfazeja, que molhando a terra e traz acalento e poesia e me faz viajar por momentos de saudade, alegria e muita, muita nostalgia.
Mas dezembro também chega com a presença massiva de comerciais na TV, buscando a todo custo o consumidor com ofertas dignas de black-fraude, tentando convencer que comprar aquele produto naquela loja trará felicidade e acima de tudo, todos os gozos e prazeres da vida. A felicidade total da vida se resumirá na aquisição daquele bem. Coisas do marketing.
Ao observar diálogos nas redes sociais sobre o mês de dezembro e o natal, volto ao tempo da infância, quando apesar de todas as dificuldades pelas quais passavam nossos pais, sempre havia um jeito de comprar uma roupa nova para cada filho e filha. E na noite de natal sempre se encontrava um carrinho para os meninos e uma boneca para as meninas, ainda que dos mais simples e baratos modelos. Quando a coisa estava mais difícil, ainda que fossem balinhas e pirulitos, carinhosamente eram deixados debaixo da cama ou entregues diretamente aos mais velhos. E indiferente do que fosse o presente, todos se confraternizavam e sentiam-se felizes na comemoração natalina.
Em dezembro – últimos dias da primavera – é um mês onde normalmente fazemos algumas pausas e de maneira tranquila, paramos para pensar, refletir sobre como foi o ano. E sem perceber nos vemos a fazer novos planos para o ano que se aproxima.
A esperança de dias melhores sempre vem com a proximidade de um novo ano. A economia real do país – não a ufanista e claramente mentirosa que propagam aos quatro ventos – e a pouca vergonha da grande maioria de nossos políticos, acusados de tudo quanto é falcatrua e crimes, nos deixam apreensivos quanto ao futuro.
Sendo assim temos que nos precaver e objetivamente não eleger nas próximas eleições, seja para os parlamentos ou para o executivo, nenhum político bandido. Não poderemos aceitar o lugar comum e a falsidade daquela famosa frase: “rouba, mas faz”.
O brasileiro trabalhador e honesto, honrado e de princípios, têm que colocar como gestores e condutores de seus destinos pessoas que vão dar satisfação de seus atos e não nos encher de vergonha, além de nos tirar direitos arduamente conquistados e nos encher de obrigações.
É preciso evitar aqueles políticos que depois de eleitos, fogem dos compromissos assumidos e das aspirações de quem os elegeu, confiando que o povo tem memória curta. Eles, em quatro anos podem ficar longe do povo, vivendo nababescamente, porém agora voltam “humildes” e “sinceros” pedindo os votos que garantirão uma série de mordomias e até impunidade por crimes.
Mas voltando à saudade, nostalgia e depois desse quase desabafo, melhor pensar positivo. No ano que se aproxima o povo brasileiro saberá votar e assim, eleger menos ladrões da “res” pública. Dessa forma podemos colocar nossos sonhos, desejos, projetos de vida em andamento.
E que tenhamos a possibilidade de buscar sempre a paz e a harmonia, obtendo muitos momentos felizes, afinal alegria e harmonia são o que mais almejamos. Com trabalho, progresso, paz e esperança de dias melhores. 
Assim, seja muito bem-vindo, dezembro!


sexta-feira, 24 de novembro de 2017

DIVAGAÇÕES




Nesses dias longos de primavera e horário de verão, ao amanhecer tenho a mania de me colocar a observar os sinais da natureza. As noites em sua maioria de clima quente me fazem ensejar que logo pela manhã, eu encontre o tempo nublado ou ainda que encontre a cair no chão os pingos alegres e irreverentes da chuva.
Estamos chegando ao final de novembro e esse ano, em poucas ocasiões a chuva veio de verdade forte e volumosa. Mas mesmo pouca, foi suficiente para que proporcionasse um certo alivio no nível dos rios e ribeirões que abastecem Goiânia e região metropolitana; porém a preocupação continua.
Observar sinais no céu me trazem sempre a lembrança de meu querido e saudoso pai. Era comum logo após o mês de agosto, quando a primavera dava sinais que em breve se apresentaria, que ele ficasse todos os dias por alguns momentos a contemplar o infinito. Procurava sinais nas nuvens, na barra do dia, no voo dos pássaros, nas flores das arvores que ficavam ali perto, e à tarde, observava a barra do poente e se havia grupos de patos a voar em formação e absoluta disciplina, para lá e para cá.
À noite, ali perto do fogão à lenha, enquanto organizava alguma coisa, eu ouvia ele comentar com minha mãe que “nesses quinze dias chove”, ou “semana que entra teremos chuva”. A “previsão” do tempo de meu pai era absolutamente precisa. Não tinha erro. E após essas constatações, ele preparava as sementes, azeitava as matracas e com a vinda da chuva, ele estava a jogar a semente na terra. Renovação de ciclos, certeza de alimento e fartura naqueles tempos difíceis, de labuta árdua, mas que sempre se encontrava motivos para ser felizes.
Hoje, enquanto observo se a manhã trouxe chuva ou sol de primavera, me vejo diante de lembranças da minha infância. Não poderia afirmar se a sabedoria ancestral que meu pai detinha teria eficácia hoje. Não que seu conhecimento fosse pequeno, é que simplesmente nos dias atuais, o homem, com suas intervenções desastrosas cada vez mais colhe o fruto de sua inconsequência ante a natureza.
A modernidade atual traz todos os dias a previsão do tempo em horário nobre e em rede nacional. Traz a informação de especialistas em previsão do tempo para hoje à noite, amanhã, daqui dez dias, um mês. Mas nem sempre acertam. A natureza sempre dá um jeito de manter seus segredos e seus mistérios.
Nessas divagações, percebo pela minha janela o barulho gostoso de pequenas gotas batendo sobre a planta que fica no muro que separa minha casa do vizinho. E esses pingos de chuva é que me trazem saudade.
Saudade de tempos que, por mais difíceis que fossem, podia-se tomar banho em riacho, tomava-se a bênção aos mais velhos, era comum e rotineiro sentar toda a família para o jantar e depois, as conversas e saraus no alpendre ao som de violão plangente e do declamar de versos poéticos. Até que o cansaço viesse e eu encontrasse um colo de mãe onde adormecia. Até que nova manhã viesse me despertar, com chuva ou sol.
Divagações do coração. De pura saudade.




sábado, 11 de novembro de 2017

JASMINS






Meus olhos te encontram
No ir e vir
De raio de luar
Que ilumina
Aguas correntes.

O coração,
Palpita
Feliz
À tua lembrança
Presente
No brilho
Da lua,
Mágica lua,
Que se confunde
Com teu
Olhar...

É que Ninfas
Sabendo de ti
A encantar as águas,
Trouxeram a lua
E ainda flores,
Pequeninas flores:
Jasmins,
Perfumados e
Encantados...

E teu olhar,
Amalgamado
Às águas e à lua,
Com a magia
Do perfume
De  jasmins!


sexta-feira, 3 de novembro de 2017

OS FLAMBOYANTS FLORESCEM




Nas últimas semanas, enquanto a população de Goiânia clamava por chuva e água nas torneiras, a paisagem nas ruas da cidade era o retrato fiel do clima. O excesso de carros, não obstante a maioria das avenidas serem largas e amplas, trazia a sensação de sufoco e de imobilidade.
As árvores que ornamentam a cidade parecem dividir a agonia trazida pelo calor intenso, pelo clima com umidade próxima do zero, comparável aos maiores e mais secos desertos do mundo. Às vezes, uma rara, graciosa e furtiva brisa movimenta os galhos, com poucas folhas, mostrando ainda assim que a natureza apesar de tudo resiste e está viva.
Em Goiânia, em algumas avenidas prevalecem imponentes e belos flamboyants. No outono ficam com a aparência judiada, após deixar cair as folhas, ficando somente os galhos com aparência de ressequidos e de uma tonalidade negra. Têm a aparência de uma arvore fadada ao fim.
Mas, eis que chega a primavera, a mais bela das estações, e ainda que as chuvas não tenham dado o ar da graça, começa-se a notar que cachos de futuras flores estão saindo de seus galhos. É como se respondessem às indagações dos motoristas, que o tempo não ajuda e a chuva está demorando muito a vir. A mensagem dos cachos que logo hão de virar belas e majestosas flores é que apesar da sequidão e do calor, a vida continua, apesar dos maus tratos que a mãe natureza recebe.
O flamboyant é o símbolo pujante da primavera em Goiânia. Passado o tempo e antes que viessem ainda que tardiamente as primeiras chuvas, em uma manhã de de sol brilhante ele aparece todo coberto de flores. Flores vermelhas, amarelas, alaranjadas e algumas de um tom cinza forte, meio que voltado para o azul. A força que vem através dessas flores, apesar do tronco ainda ressequido e do clima quente e abafado, enche a vida de beleza e alegria. Os flamboyants parecem nos dizer que de fato a primavera chegou.
E com a presença das inúmeras flores começa-se a ver que no céu as nuvens que andavam sumidas e fugidias, se aproximaram e juntas parecem mais densas. Como se concordassem com a alegria, a resistência e força das flores que os flamboyants desabrocharam. E com isso, parecem ter trazido para si a responsabilidade de mostrar que era hora de mandar chuva, para alivio de todos.
Às vezes sou flamboyant. Não obstante em alguns outonos da vida perder folhas, e o tronco ficar fragilizado, o coração e a poesia fazem com que logo flores apareçam e tragam novamente a alegria.
Comparo a chegada das chuvas que trouxeram acalento, com a poesia que flui do coração. Não obstante momentos de incerteza e dificuldade.
O flamboyant e a vida, a vida e os flamboyants: sempre com a perspectiva e esperança de flores e a certeza que após o outono, a primavera chega. Com renovação, flores e muita, muita beleza. E também alegria e felicidade.






sexta-feira, 27 de outubro de 2017

ÀS ETERNAS CANÇÕES DO REI




Enquanto tentava de uma ou outra forma minimizar o calor que tomava conta da noite da última quarta-feira, acabo por vir para o pequeno canto onde escrevo minhas simplicidades. E ao ligar o rádio, eis que ouço uma canção do rei Roberto Carlos. Canção antiga, salvo engano de um disco lançado em 1971, com uma letra intensa, onde se fala de recordações. Inevitavelmente me deixo levar por esses sentimentos de nostalgia e saudade.
Me vem à lembrança que a primeira vez que ouvi canções do rei Roberto Carlos, eu era ainda muito criança. Foi na sala da fazenda do meu avô, que ficava vizinha à saudosa e querida Fazenda Nova América, onde morávamos.
Ocorre que alguns primos meus que haviam se mudado para São Paulo fazia alguns anos vieram visitar a família e trouxeram uma novidade, algo até então praticamente desconhecido de todos ali: uma radiola, espécie de aparelho de som que funcionava à pilhas e rodava discos pretos, amparados por um pequeno braço.
A radiola tocava canções que de imediato achei pouco alegres e chatas. Muito monótonas para um menino tímido, de pouco mais de cinco anos. Mas o que me encantava mesmo era olhar para o pequeno alto-falante que ficava na tampa e, como no rádio, ficar imaginando como caberiam ali pequenos homens que cantavam.
Meus primos Dedé e Elídio, minhas irmãs e meu tio Marcelino passaram a tarde daquele longínquo dia de minha infância, salvo engano um sábado, ouvindo canções.  E ao irmos embora, eles continuaram entoando o refrão das músicas que ouviram. Assim, pela estrada que dava acesso à nossa casa, cantaram “Quando” e outras. Essa canção “Quando” marcou, e até hoje me faz recordar as cenas daquela tarde distante de minha infância, momentos que ficaram para sempre guardados no coração.
Um dia entendi que não haviam homenzinhos naqueles aparelhos, mas a tecnologia – à época, pouca se comparada com a de hoje – que se apresentava trazia diversão e alegria.
O rádio, talvez por ser tão presente e fazer parte de minha infância me acompanha até hoje. Companheiro inseparável e indispensável. E a partir disso foi inevitável notar que as canções do rei eram presença constante na programação das emissoras de rádio.
Àquela época ouvia-se a Rádio Globo do Rio de Janeiro, a Rádio Brasil Central de Goiânia e a noite era obrigatório ouvir a Rádio Record de São Paulo e a Rádio Tupi do Rio, que tinha um programa alegre, com a famosa “Turma da maré mansa”.
O tempo passou e as canções do rei sempre estiveram presentes em minha vida, seja em momentos de alegria, tocando violão, fazendo serenatas, em momentos românticos com a amada, ou mesmo deixando-me embalar, quase sem perceber, enquanto escrevo meus textos em uma noite de calor intenso, à espera da chuva que está demorando a vir.
Canções como "Detalhes", "Amada amante", "O portão", "Meu querido, meu velho, meu amigo" e tantas outras, além das recentes, sempre trazem um quê de romantismo, saudade, acalento.
As canções do rei: sempre eternas, no coração dos românticos. E no meu, no seu, em nossos corações.





sexta-feira, 22 de setembro de 2017

PRIMAVERA DE FLORES, CORES E LEMBRANÇAS





Há alguns dias observo que os pássaros que habitam meu quintal mudaram a rotina. Apesar do clima ainda estar quente e seco, os pequenos seres alados voltaram a construir seus ninhos de maneira frenética, buscando no chão pequenos gravetos para assim dar sequencia ao circulo maravilhoso da vida. O movimento dos pássaros construindo seus ninhos é um forte sinal que a primavera se aproxima.
Ah, primavera! Com suas belezas e encantos me traz de volta muitas lembranças, saudades, recordações.
As mudanças no clima e na rotina dos animais e das pessoas são plenamente perceptíveis quando ela se aproxima. As noites se tornam mais amenas, com madrugadas quase frias e as arvores cobrem-se de folhas novas, e ainda que a chuva não tenha chegado, demonstram que logo estarão cobertas de flores e em curto espaço de tempo, cheias de frutos. 
Desde criança eu me encantava com as flores da primavera, que após as primeiras chuvas, tomavam conta dos campos e dos quintais. Primeiras chuvas que de início vinham mansas, para em seguida acontecerem fortes temporais.
Lembro que na minha meninice, ao levantar pela manhã e, apesar de não totalmente refeito dos temores trazidos pelo barulho dos trovões precedidos pelas luzes intensas e rápidas dos relâmpagos, eu me enternecia ao ver que ainda havia uma chuva calma e suave. E ao olhar no horizonte, percebia o cafezal todo branco, como que coberto por nuvens ou por neve. Daquele cantinho, perto de minha mãe e ao lado do fogão à lenha, eu me punha a admirar aquela paisagem.
Mais tarde fazia questão de acompanhar meu pai em um passeio entre as imensas avenidas formadas pelos pés de café, sentindo o cheiro de terra molhada se misturar com o perfume daquelas flores brancas, alvas. Essas imagens ficaram em meu coração e daí em diante, sempre me encantei com a beleza das flores. Elas que me acompanham por toda a vida.
Interessante que antes da chegada das chuvas, tempo de calor não tem como deixar de notar os sofridos e mal cuidados flamboyants da minha cidade que, apesar da fuligem que cobre seu tronco e galhos, ao aproximar-se a primavera desabrocham cachos de cores intensas e vivas. Flores vermelhas, amarelas, brancas ou mesmo azuis. Sim, em Goiânia temos flamboyants de flores azuladas.
Nos canteiros centrais das avenidas é observar e se encantar com a beleza do verde das folhas e o amarelo ouro das flores que compõem a paisagem dominada pelas imponentes sibipirunas, que trazem a nós a esperança de dias melhores em nosso sofrido, vilipendiado e saqueado país.
E assim, eis que é chegada a primavera. O tempo seco e quente dá lugar às chuvas que aos poucos vão se firmando e com elas a presença das flores, que enchem a vida e o mundo de encantos.
Seja bem vinda, primavera. Primavera de cores, amores, encantos e flores. Muitas flores.




quinta-feira, 7 de setembro de 2017

ENCONTRO




Incitados pela brisa
O rio,
A tarde
E a ponte
Se encontram.
E felizes e encantados
Extasiam-se
Ante teu sorriso
Que ilumina o sol,
Em tarde
De quase
Primavera!


NA FLORADA DOS IPÊS


“Eu nasci no mês de agosto
O mês da flor do ipê
Os campos ficam floridos
Que dá gosto a gente ver...”
           (Da canção Flor do Ipê – André/Andrade)



No centro oeste e no norte do Brasil, ao inicio do mês de julho as mangueiras estão começando a soltar seus cachos de flores. Nos quintais, sítios, fazendas, beiras de estradas se nota a beleza e a pujança e chegando mais perto, sente-se facilmente adocicado e suave perfume.
Prenúncio de outra beleza que logo chega: a alegre e multicolorida florada dos ipês, que apesar da paisagem normalmente seca dessa época, com a chegada do mês de agosto, tornam o horizonte belo e encantador.
Ao trafegar pelas rodovias ou mesmo nas avenidas das cidades, fica impossível passar incólume e despercebido ante o majestoso colorido dos ipês. E eles parecem combinar, para que não falte beleza: primeiramente, vem a florada da variedade de flores roxas -  ou rosas; depois a de flores amarelas – que parecem ser mais numerosas – e por fim, as flores  brancas, em uma sequencia de pura harmonia.
As flores dos ipês e das mangueiras trazem com sua beleza e majestade um alento, ante a sequidão dos meses que precedem a temporada das chuvas e são uma espécie de cartão de visitas da primavera que em breve haverá de chegar.
E mesmo nesse tempo seco, as aves começam a se preparar para o acasalamento, iniciando a construção de ninhos. Algumas espécies até reformam o ninho antigo. E elas – as aves – sempre buscam lugares onde podem encontrar segurança juntamente com a próxima família que há de vir. É o ciclo venturoso proporcionado pela mãe- natureza, renovando e dando sequencia à maravilhosa arte de viver.
O colorido dos ipês me faz embarcar na saudade e adentrando os recônditos do coração, me reencontro com os campos da querida e saudosa Fazenda Nova América, local onde passei minha primeira infância. Foi lá que meus pais viveram boa parte de vida, dando condições e criando sua família.
Eu era ainda muito menino, mas me encantava com as belezas da fazenda. E ali, bem pertinho da casa simples onde morávamos havia uma pequena matinha que era rica em pés de ipês. As mangueiras imensas, pujantes e quase centenárias, ficavam nos fundos da casa, em um grande quintal, ao lado de outras arvores frutíferas.
Os ipês são apenas o principio da temporada de belezas que ocorrem antes da primavera. Logo em seguida à sua florada, nos primeiros dias de setembro, as imponentes sibipirunas derramam seus cachos de um amarelo-ouro intenso, que em contraste com o verde vivo de suas pequeninas e numerosas folhas, trazem as cores principais da bandeira nacional, completadas com o azul do céu e o branco das nuvens. Parecem saudar a pátria brasileira na semana de seu aniversário.
As beleza das flores das mangueiras, dos ipês e logo em seguida das sibipirunas, apesar do período com tempo seco e quente nos trazem a certeza que a vida se renova, assim como nossas esperanças. E nos dá a certeza que logo chegará alegre e colorida primavera.

 Assim a vida vai seguindo, e apesar de tudo o que vivemos e passamos, traz através da natureza inabalavelmente suas belezas e encantos. Adornada por flores. Flores de mangueiras, ipês e sibipirunas.




sexta-feira, 11 de agosto de 2017

TEMPO DE PREPARAR AS SEMENTES




Nos meses que se seguiam à colheita e com o fim da temporada das chuvas a lida na Fazenda Nova América era intensa. Meu pai, ajudado por alguns trabalhadores, iniciava o preparo a terra no local onde seria plantada a futura roça. Era sempre assim: mal terminada uma colheita, já era hora de preparar um local previamente escolhido, retirar o mato alto com foices e machados e organizar tudo em montes ou leirões, também chamados de coivaras.
Dali a algum tempo, quando o mato secava, colocava-se fogo e a exceção dos galhos mais grossos, quase tudo se transformava em cinzas. Ao lado dessas coivaras eram plantadas sementes de abóbora, melão e melancia, que após nascidas, rapidamente subiam naqueles galhos secos, enegrecidos pelo fogo. E mesmo sem jogar sementes e não obstante ter sido colocado fogo naquele local, nasciam sempre vigorosos pés de bucha, que eram utilizadas em diversos serviços de higiene e também de melão de São Caetano, uma planta muito usada para fins medicinais.
Após o preparo do local da roça, era hora de escolher as sementes. Espigas de milho previamente selecionadas – as graúdas e grossas – tinham as palhas retiradas e os grãos de parte delas selecionados. Deixava-se apenas uma pequena quantidade em cada ponta que eram debulhados e destinados a alimentar os animais. Nas sementes de arroz a feijão, adicionava-se uma pequena quantidade de veneno, para que as formigas e outros predadores naturais não impedissem a germinação.
Quando chegava agosto, mês de muitos ventos e seco, as águas do pequeno córrego que servia a fazenda baixavam um pouco. Mas tudo era compensado pela beleza dos ipês floridos que rodeavam a fazenda. Ipês roxos, amarelos e por ultimo os brancos davam vida e traziam a certeza que a natureza estava apenas se preparando para mais um espetáculo majestoso e belo, assim que começassem a cair as primeiras chuvas.
E por falar em chuva, no mês de agosto, por diversos momentos, meu pai ficava a fitar o horizonte, observando o movimento das nuvens. Fazia isso pela manhã, no meio da tarde e ao fim do dia. Ficava a olhar a barra do dia, para que com a sabedoria milenar recebida de seus antepassados, soubesse se a chuva estava próxima ou não.
Era comum nos meses de junho e agosto caírem algumas chuvas, chamadas de chuva das flores. Em junho, trazia frio e em de agosto, deixava o clima suave, ameno, ainda que por alguns dias.
E não havia tempo para descansar. Nesse hiato de tempo, hora de reformar as cercas, o paiol, os mangueiros onde se criavam porcos, corrigir as estradas de acesso à propriedade, combater as teimosas saúvas e um sem numero de serviços que exigiam muito esforço e dedicação.
Depois de todo esse trabalho, com a terra pronta, as sementes preparadas e a fazenda arrumada, era esperar as chuvas que não tardariam, pois os sinais no horizonte captados por meu pai, as mangueiras abarrotadas de flores e o ir e vir de pássaros davam a certeza disso.
Era quando chegava o tempo de semear, recomeçar o circulo venturoso da vida, na incansável luta pela sobrevivência.
No mês de agosto sempre me vem à lembrança a figura terna e suave de meu pai. Aquele homem de mãos rudes, grossas e judiadas pelo trabalho árduo do cotidiano, ainda encontrava inspiração e forças para, ao inicio da noite espantar o cansaço e reunir a família em deliciosos momentos de alegria, declamando versos cheios de poesia, ao som do seu violão dolente.
Naquele momento, independente da época do ano, era hora de semear – e também colher. Semear amor, carinho e ternura em nossos corações e colher sorrisos, harmonia, paz.

E é com essas recordações e saudades que venho homenagear e parabenizar os pais pelo dia. A todos, um feliz e abençoado dia dos pais!




sexta-feira, 4 de agosto de 2017

ASSIM, SEGUIMOS... E CAMINHAMOS!



Às vezes, deixo-me levar pelos embalar da vida e qual uma rede a balançar, e não percebo o tempo passar. É como se estivesse em absoluta letargia e ainda que com a ocorrência das manhãs ou dos maravilhosos entardeceres do outono passado e agora do inverno – sempre tão belos –, simplesmente não mensuro o quão rápido o tempo se esvai, qual areia entre os dedos das mãos.
Isso reflete em meu rosto, e as poucas, brancas e desalinhadas cãs combinam bem com a barba – também branca – que recobre minha face.
Entre os últimos meses do outono e este inicio de inverno, o coração se voltou para outros rumos, que não a aparência. As prioridades passaram a ser a vida, o ser e a fé de que tudo se restabeleça, e volte à parâmetros rotineiros.
De repente tudo passa a ser a partir de determinado ponto, de determinado momento. Parece que o antes, o tempo passado e vivido se torna leve e suave lembrança, permeada de saudades de bons e alegres momentos.
Passa a contar a partir de uma madrugada fria de maio, quando por uma questão de minutos a vida permanece. A dedicação de socorristas ante a cena que imaginava ser apenas de filme, passa a ser o real e uma espécie de marco zero.  É no instante que se inicia uma luta ferrenha pela vida, luta esta amparada pela fé, pela confiança inabalável no Médico dos médicos que norteia a perícia e sabedoria dos profissionais de múltiplas áreas, que em equipe compartilham conhecimento e exercem seu sacerdócio, buscando a saúde e o bem estar de quem tanto precisa deles.
E agora o tempo, senhor da razão que é, passa a ser aliado. A cada movimento, por menor que seja, traz esperança e aumenta a certeza de que em breve, se possa ouvir uma voz ou mesmo perceber uma resposta consciente de que tudo pode ficar bem. Dessa forma os dias e noite do inverno e tornam mais suaves, pois a esperança se amplia.
Voltando para mim, quanto às brancas cãs em desalinho e à barba por fazer, penso que o que tenho de mais importante é a essência, aquilo de bom que está contido em meu coração e que norteia meu jeito de ser e de proceder.
Assim, continuar dando valor à coisas aparentemente pequenas e quase imperceptíveis, mas que se olharmos mais detidamente, são gigantes e muito mais importantes que questiúnculas, que sempre levam a lugar nenhum.
Viver em paz e harmonia, se permitir receber a brisa suave da manhã, acompanhada pela luz que vence a escuridão e faz o dia perfeito, quase sempre com fundo musical executado por gorjeios de pássaros.
É assim que tornamos melhor a vida, o existir, o cotidiano... E assim, seguimos, assim caminhamos!



sexta-feira, 30 de junho de 2017

DE RECEBER, COM AMOR E ALEGRIA



Eu estava sentado no pequeno alpendre da casa onde morávamos, quando ao longe, vi descendo a ladeira do pequeno córrego que ficava próximo, um vulto conhecido. Vestia uma roupa clara e se protegia do calor daquele início de tarde, pouco depois do almoço, com uma sombrinha de cores diversas. Os passos eram lentos, porém firmes.
Aos poucos foi se aproximando e eu não me contendo, corri até aquela pessoa e recebi dela um abraço, enquanto pedia-lhe a bênção – atitude respeitosa que os mais jovens àquela época tinham com os mais velhos.
Era minha Tia Justina, casada com o Tio Cazuza irmão de meu pai. Ela era uma pessoa carinhosa, e sempre que a encontrava me pegava no colo, dando beijos e pequenas palmadas de brincadeira, dizendo que era pelas minhas peraltices.
Tia Justina e a família há um bom tempo tinham mudado de São Miguel, cidade onde morávamos, para a capital. Mas ela vinha sempre visitar os filhos, que moravam na pequena e querida cidade de Araguaçu, em cuja zona rural que ficava a Fazenda Nova América.
Ela chegou reclamando o calor e também do ônibus que fazia o trajeto entre Araguaçu e São Miguel – que quebrara na estrada, atrasando em pelo menos três horas a viagem. Mas, finalmente chegara e ainda daria tempo de descansar e esperar com calma o ônibus no qual ela às sete da noite embarcaria com destino a Goiânia.
Minha mãe se apressou em providenciar algo para que ela matasse a fome. Além do arroz do almoço que estava sobre o fogão à lenha, ainda quentinho, mamãe esquentou a deliciosa carne de lata, uma saladinha de tomate e alface. Reforçou aquela refeição frugal, mas providencial com um ovo frito, bem molinho e para refrescar o calor intenso, suco bem gelado de acerolas colhidas na hora, ali pertinho, no pé que ficava no quintal.
Passados tantos anos daquela tarde quente, recordo com carinho aqueles momentos. Momentos onde se sabia que, a qualquer hora ou dia que chegasse em uma casa seria recebido com carinho, amor e hospitalidade. Nunca faltando um prato de comida, uma toalha limpa e uma cama macia.
Recebia-se uma pessoa com imensa alegria e felicidade. Lamentava-se às vezes que o tempo da passagem era pequeno, curto, mas por outro lado, louvava-se o fato que ela escolhera aquela casa para ficar.
Hoje ainda recebe-se em casa pessoas queridas, da família. E tudo continua tendo o encanto de antes. É prazeroso dividir a sala, com um bom e animado papo com pessoas que queremos bem. E se alegrar que se hospedem naquele quarto que sempre fica arrumado à espera que seja ocupado. É também quando aparecem aqueles colchões sobressalentes, que ficam escondidos em algum canto. Assim, todos se ajeitam com relativo conforto, se sentem muito em casa.
E tão bom quanto receber pessoas amadas, é também ser recebido por elas. Devolvem da mesma forma a alegria, a hospitalidade. Naturalmente, como gestos de amor.
Assim, a vida vai seguindo, como em uma via de mão dupla, composta por amor e fraternidade.




sexta-feira, 23 de junho de 2017

EM FELIZ E ALEGRE NOITE DE SÃO JOÃO

Imagem retirada da internet


O crepitar das brasas da imensa fogueira, emitia som único e interessante, que aliado ao calor que dispensava e ao vermelho das lavaredas vivas e inquietas, parecia hipnotizar as pessoas que estavam ali a observar.
O encantamento se desfez quando os acordes dolentes da sanfona convidaram o povo a se aproximar do local onde aconteceriam as apresentações dos diversos grupos de quadrilha, em um animado e alegre concurso.
Eu era um dos poucos que não participaria da minha classe. Eu era aluno transferido há pouco tempo e quando chegara àquela escola, os grupos e pares já tinham sido feitos e os ensaios já aconteciam. Fiquei com certa tristeza, afinal, tinha muita vontade de participar daqueles folguedos. Restara-me torcer para os colegas de classe e, claro divertir-me ao lado dos meus pais com tudo aquilo que a festa junina poderia oferecer.
Absorto, quase não percebi quando meu pai se aproximou e com sua voz macia e terna me chamou para irmos ao local assistir às apresentações. Papai chegou trazendo um grande saco cheio de pipocas, com o que imediatamente me animei.
Sem muita dificuldade, nos acomodamos na improvisada arquibancada, feita de tábuas quase soltas e esperamos o anúncio do inicio da festa. Papai parecia animado e conversava a muito com minha mãe. Aliás, essa era uma característica marcante de meu pai: sempre animado e bem humorado, gostava de festa e de estar perto de pessoas alegres.
O som da sanfona tomou conta do ambiente e firmou em uma melodia alegre e animada. Logo, um grupo de jovens começou a apresentação, com a quadrilha sendo cantada por um senhor de cabelos brancos e voz forte, que comandava as evoluções, que iam sendo mostradas pelos pares do grupo. Terminada aquela apresentação, entrou outro grupo e assim, a animação ia ficando cada vez maior.
O frio de junho começou a apertar e minha mãe, zelosa como era, apressou-se a me entregar e pedir que vestisse um agasalho que ela providencialmente trouxera. Senti-me confortável e aquecido de imediato. Logo, papai em entregava mais pipoca e outras guloseimas.
Terminadas as apresentações, fomos passear e visitar as barraquinhas da quermesse. Eu todo alegre e feliz, ao lado dos meus pais, brinquei de pescaria, de tiro ao alvo, joguei argolas em garrafas e claro, tomei caldo de frango e feijão quentinhos e degustei um delicioso milho assado. E minha mãe a se perguntar como tudo aquilo cabia. Eu ria a valer e aproveitava muito aquele momento, de pura alegria e felicidade.
Chegada a hora de ir embora, e nos colocamos a caminho de casa. Íamos a pé, pois morávamos ali pertinho e naquele tempo, era tudo muito tranquilo na pequena e acolhedora cidade onde morávamos.
Chegando em casa, coloquei uma roupa quente para dormir, afinal junho é sempre muito frio. Hora de ir par a cama, não sem antes receber o carinho e o beijo de minha mãe junto com a bênção do meu pai.
Naquela noite, demorei um pouco a dormir. Me vinha à lembrança o crepitar da fogueira, e o sorriso daquela menina que me encantava e que estudava na mesma sala que eu e que naquela noite, estava ainda mais linda, vestida com a roupa típica da quadrilha junina.
Adormeci e sonhei que dançava com ela. Que era seu par e juntos, bailávamos ao som da alegre canção junina.
Sonhos de um menino quase na adolescência. Sonhos de uma alegre e feliz noite de São João.



sexta-feira, 16 de junho de 2017

DOS ÚLTIMOS DIAS DO OUTONO...



            A manhã de junho, na cidade de Palmas, Tocantins, de esplendor único e inigualável parecia ter deixado toda a beleza possível para aquele momento. Não bastasse o sol brilhante e o céu de um azul límpido e sem nuvens, a lua minguante resolveu dar o ar da graça, ainda que durante o dia.  Parecia encantada com o cenário, buscando, como se fosse possível, embelezar ainda mais aquilo tudo.
Ventos vindos de todos os lados passavam sobre o cajueiro coberto de flores e pequenos frutos, trazendo perfumes únicos, do aroma do cerrado.
O outono chega aos seus últimos dias. Em toda a estação, tivemos momentos de frio, calor, dias e noites espaçadas pelo mesmo tempo e a natureza, renovando a vida, permitindo que novas folhas venham e ocupem o lugar daquelas que, cumprindo sua missão, deixam-se cair, ainda para uma ultima etapa da existência, de generosamente proteger a árvore-mãe e adubar a terra que a mantém, garantindo a sobrevivência.
Em poucos dias teremos a chegada do inverno. As novas folhas que sucederam as caídas no outono haverão de proteger e garantir o ciclo venturoso da vida. É hora de buscar as energias acumuladas e garantir os próximos meses, onde o frio e os ventos, aliados ao tempo seco, haverão de ser mais difíceis.
Logo, após tudo isso entre as folhas ou nos caules haverão de aparecer pequenos e tímidos bulbos, que se transformarão em flores, anunciando alegre e festiva primavera – a rainha das estações. E logo, a vida confirma sua renovação, em frutos e sementes que alimentarão os viventes.
Também somos manhãs se sol, manhãs de ventos que trazem perfume de flores e aromas do cerrado. Em nossa existência talvez sequer percebamos, mas passamos por todas as estações. Talvez percebamos melhor a mais bela, a mais pujante e encantadora, por tudo que representa. Mas, também somos dias nublados, com ventos fortes, ás vezes ameaçadores e perigosos, ou com chuvas fortes, temporais que amedrontam, assustam.
Da mesma forma que um dia somos flores, depois frutos e por fim sementes, trazendo beleza e renovação, um dia somos folhas que, caídas ao chão, pouco ou mais nada representam.
Assim caminhamos. E que essa caminhada seja plena de carinho, ternura e compreensão. Que em cada instante da existência, nas belas manhãs de junho ou em dias e noites tormentosos e difíceis, o amor prevaleça. E assim estabeleça-se laços fortes, profundos, inabaláveis, capazes de suportar dores e tormentas, mas também de alegremente, celebrar manhãs de outono de céu azul, ventos travessos e sol brilhante. Observados pela lua minguante que não haverá de querer perder o espetáculo de encanto e beleza.


sexta-feira, 9 de junho de 2017

JUNHO: DOS NAMORADOS E DE ALEGRIA



O mês de junho é realmente muito especial. Diferente dos demais meses do ano, em junho temos manhãs de beleza indescritível. Emolduradas pelo verde que a temporada das chuvas deixou presente na natureza, as manhãs de junho são de sol brilhante e brisa amena.
Tido como um mês romântico, festivo e alegre, junho encerra o primeiro semestre, quando intimamente nos vem àquela sensação de dever cumprido, de já ter vencido a primeira parte do ano que segue. Com as festas de Santo Antônio, São João e São Pedro é certeza de diversão, alegria e claro, muita devoção.
Na Fazenda Nova América havia comemorações juninas. Na noite da véspera do dia de cada santo, meu pai fazia uma imensa fogueira, por onde minha imaginação de criança viajava e se encantava, ao observar a beleza do vermelho intenso do fogo e das brasas que se formavam.
A fogueira da véspera de Santo Antônio era precedida por uma reunião dos familiares que moravam por perto, quando rezavam um terço. Não raro, após o ato de devoção meu pai pegava o violão e ali mesmo, na sala acontecia um improvisado e agradável sarau.
Já na véspera de São João a festa era grandiosa. Era o fim de uma novena que as famílias da região faziam e na noite de 23 de junho se reuniam, rezavam o terço e encerravam a novena, agradecendo pelas graças obtidas.
Então acontecia a grande festa. Era muita fartura e alegria. Além dos vizinhos, vinham políticos, pessoas importantes e o vigário da pequena cidade de Araguaçu, que ficava bem próxima à fazenda.
Após a reza, os violeiros, sanfoneiros e tocadores de percussão se organizavam afinando os instrumentos e afiando a voz sob a barraca feita de palha e bambu, em frente à casa. Era para que todos se acomodassem bem e não sofressem os efeitos do sereno.
Enquanto isso minhas irmãs se reuniam com outras moças da mesma idade e cantavam os sucessos que ouviam através do rádio. Havia uma música que nunca esqueci. Uma puxava as estrofes e em seguida, todas em coro cantavam o refrão. Dizia assim: “...pegue uma esteira e seu chapéu, vamos para a praia que o sol já vem...”. Com alegria eu recordo aquele coral de jovens alegres e felizes, que até hoje ecoa em meu coração.
Eu não percebia, pois era muito criança, mas dessa festa saíram muitos  namoros e depois casamentos. E tudo transcorria em alegria e muita amizade. Logo, todos jantavam até se fartar, degustavam os doces e começava a diversão, com muita música, repentes e alegria, que ia pela madrugada.
É muito bom buscar nos recônditos do coração esses momentos. Mas o que mais me chama a atenção em junho é o fato de ser o mês dos namorados, tendo o dia doze como seu ápice. Para mim, uma data mais que especial. É tempo de renovar laços de amor e de reviver e viver momentos de ternura e enlevo.
Através de canções, recordar momentos felizes, de passear de mãos dadas com a amada nas tardes, que como as manhãs, são também repletas de beleza.
E para mim, doze de junho, embora seja outono, é tempo colheitas e de primaveras. Assim, seguir pelos caminhos da vida, agradecendo a dádiva de mais um ano vivido, vivenciado.
Que a vida tenha sempre esse clima de junho. Clima de alegria, paz e muita, mas muita felicidade.


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